segunda-feira, março 6

A face Sonrisal da Transposição, por Magno Martins

Barragem Sonrisal: uma triste realidade da Transposição depois de 10 anos...
Foi o assunto da semana passada e seguirá rendendo em meios sérios: o rompimento da Barragem de Rio da Barra, Município de Sertânia, no Eixo Leste da Transposição do Rio São Francisco. E o Jornalista Magno Martins traz hoje um texto soberbo sobre o assunto, que eu reproduzo aqui. Espero que gostem, porque eu adorei...


Projetada e sonhada deste o Império, a Transposição das Águas do Rio São Francisco é o maior investimento hídrico no Nordeste feito pelo Governo Federal. Há dez anos suas obras caminham em ritmo tartaruga, quase parando. Com os atrasos, tudo na obra ficou mais cara. O custo passou de R$ 4,5 8 bilhões para R$ 8,2 bilhões. Milhares de hectares de caatinga foram devastados para construção dos canais.

O canal por onde começa a transposição ficou pronto desde 2015, mas as bombas só começarem a puxar a água recentemente. O projeto é magnânimo até na sua finalidade: melhorar a vida de 12 milhões de pessoas em quatro Estados nordestinos – Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. A construção envolve 600 quilômetros de canais de concreto. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deu o pontapé inicial, previa inaugurar a obra em 2010.

Ao longo dos últimos anos se descobriu não apenas superfaturamento nas obras. A primeira denúncia de corrupção envolveu o Exército. Em 2011, o batalhão de engenharia responsável foi acusado de roubo de materiais de construção, favorecimento de empresas e direcionamento de licitações. As grandes empreiteiras aproveitaram para ganhar terreno e assumir pouco a pouco os serviços. Em 2015, delegados e agentes da Polícia Federal mobilizados na operação Vidas Secas prenderam empresários, funcionários e doleiros – alguns dos quais, não tão surpreendentemente assim, já haviam sido detidos em fases da Lava Jato.

Os desvios foram realizados pelo consórcio formado pelas empresas OAS, Galvão Engenharia, Barbosa Melo e Coesa, responsáveis por dois dos 14 lotes do megaempreendimento. O grupo, do qual quatro empreiteiras já eram investigadas na Lava Jato, é suspeito de superfaturamento e de usar empresas de fachada dos doleiros Alberto Youssef e Adir Assad, condenados por envolvimento no esquema de corrupção da operação envolvendo a Petrobras.

Uma face, entretanto, desconhecida do projeto veio à tona com o rompimento da barragem Barreiro, em Sertânia, sexta-feira passada. Obra Sonrisal? Pode até não ser, mas gerou esta desconfiança no segmento da engenharia e na opinião pública. Mas o que aconteceu em Sertânia não é exclusividade do projeto, não foi a primeira e parece que não será também a última noticia ruim. Só para refrescar a memória, no início de 2012, 240 metros do canal foram danificados no Ceará por causa das “fortes chuvas” em Mauriti.

Em fevereiro do ano passado, uma parede de concreto também se rompeu em um dos canais do Eixo Norte entre os reservatórios do Tucutu e de Terra nova, em Cabrobó. A estrutura danificada pertence a um trecho que já estava pronto, mas que em período de testes não suportou a passagem de água, provocando um vazamento. Ninguém no Nordeste, que sonha acordado com o pleno funcionamento do projeto, sem descontinuidade no Governo Temer, deseja ser surpreendido com notícias como essas que despertam a desconfiança de que as obras foram mal feitas e a Transposição pode fracassar, virando em grande elefante branco.

Mas entre a desconfiança e a realidade não há distância. As obras do reservatório Barreiro, por exemplo, não são da fase nova. Foram iniciadas em março de 2014, no Governo Dilma, e finalizadas em setembro de 2015, primeiro ano do segundo mandato da petista, cassada em 2016. O início do enchimento se deu em 25 de fevereiro passado e a saída das águas pela estrutura de controle aconteceu no dia 27, totalizando dois dias de enchimento, para uma capacidade plena de 2.612.000 m³.

A MELHOR SOLUÇÃO– O Nordeste é uma das regiões com maior número de reservatórios artificiais do mundo, com 70 mil açudes que podem armazenar 37 bilhões de m3 de água, suficientes para abastecer grande parte dos municípios do semiárido caso diversas obras de distribuição programadas antes da Transposição tivessem sido realizadas. Para engenheiros contrários ao projeto São Francisco, a melhor forma de amenizar a seca seria a reforma dos açudes e a construção de poços para captação de água no lençol freático, além de reservatórios para a coleta da chuva.

Morte estranha– Em 2016, as obras da transposição voltaram ao cenário policial. Uma espécie de segunda fase da operação Vidas Secas, a chamada operação Turbulência teve como foco um desvio de R$ 18,8 milhões de uma terraplanagem. O pagamento foi feito à OAS e o proprietário da empresa receptora, Paulo Cesar de Barros Morato, foi encontrado morto no quarto de um motel em Recife, alguns dias depois da operação. A causa da morte foi envenenamento e a Polícia trabalhava com a hipótese de suicídio.

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