quinta-feira, dezembro 10

20 anos atrás eu sentia a maior emoção da minha vida no futebol


Ser Santista hoje em dia é fácil, é mole... mas em 1995 era uma dureza incrível. O Santos estava a 11 sem ganhar títulos, tivera malas aprendidas durante uma excursão no Chile por falta de pagamentos em 89 e quase fora rebaixado neste mesmo ano, sofria goleadas implacáveis dos rivais ( em 93 tomou 6x1 do Sao Paulo e 5x1 do Palmeiras no mesmo campeonato ). Nem em finais o time conseguia chegar para se ter uma ideia. 

Eram tempos de heróis esporádicos, como Socrátes em 88/89, Paulinho McLaren, Guga, Almir, César Sampaio... a maioria nem sempre no mesmo time. Até que em 1995 o improvável aconteceu: um time que fora patético no Estadual ( outra goleada em hora decisiva, desta vez para o Corinthians ) do nada resolveu jogar. Capitaneado por Galo, defendido por Narciso e comandado pelo Messias... sim, pelo Messias Giovanni Silva Oliveira. Um paraense que viera da Tuna Lusa em 1994 e parecia mais um a tentar a sorte no Santos... parecia, mas não era. Era um cracaço de bola.

Alguns refugos de outros times se juntaram naquela equipe: Macedo e Jamelli vieram do Sao Paulo, recentemente bi-campeão mundial, Vagner e Robert que já tinham diversos clubes na lista. Outro atletas eram da base como Ronaldo Marconatto, Carlinhos e Marcelo Passos. O Técnico era um tal de Cabralzinho, que já passara - sem deixar qualquer saudade - pela Vila Belmiro.

Após um primeiro turno sem empolgar ( apesar de algumas boas partidas ) o time foi para o tudo ou nada no segundo turno. Saiu vencendo a todos: goleou o Corinthians na Vila encharcada ( 3x0 ) e passou pelo Palmeiras no Pacaembu ( 1x0, gol de Vágner faltando 5 minutos pro fim e sem esta vitória o time nem teria ido para semifinal ). Ai era só bater no já eliminado e correr para o abraço. Mas mesmo sendo sensação aquele momento o jogo foi tenso.  E eu nem vi o jogo, pois estava indo para Fortaleza. Só soube da classificação ao chegar na capital dos cearenses. Alívio e esperança, claro. 

Na quarta aconteceu a partida de ida, no Maracanã. E eu mais uma vez não iria assistir. Achei um bom presságio, mas não foi bem assim. Soube em uma das paradas que estava 1x0 para o Santos e imaginei chegar classificado em Salgueiro, mas... foi 4x1 para o time de Renato Gaúcho, apos uma jogador ser expulso tudo praticamente ruíra. Como reverter um placar assim? Eu não sei de onde vinha minha fé, mas eu dizia a todos: "vamos virar". Achavam que era apenas da boca para fora, mas eu acreditei. Muito antes do Atlético-MG e sua saga na Libertadores de 2013. Eu me lembro da cada momento naquele domingo 10 de Dezembro, coloquei minha casa 10, claro, comprada em Fortaleza e fiquei - como sempre - assistindo pela Band ( torcedor de time SP deveria apanhar de cinta de preferir a Globo ).

O resto é história. Os gols do primeiro tempo, as bolas na trave, os quase gols do Fluminense, time ficando o intervalo no campo... tudo está nítido na minha cabeça até hoje. O gol de Macedo parecia libertador... mas o Fluminense era um time forte e lutou muito, conseguindo logo em seguida o 3x1 que lhe servia. Aos 16 o Messias - que já fazia partida magnifica - rouba bola de Ronald, divide com o goleiro Whellerson e a bola sobra para Camanducaia fazer 4x1 e seguirmos para a final, mas... o zagueiro Ronaldo faz uma falta idiota no meio de campo e é expulso. O Flu aperta, pressiona e o segundo gol parece certo. Mas o Santos tem o seu Messias...

Eram 39 minutos. Com um a menos, ele tenta segurar a bola no meio do campo, num lance aparentemente sem qualquer pretensão. Mas estamos falando de G10, estamos falando de um gênio. Ele, do nada, arruma um passe de calcanhar para Marcelo Passos que como uma flecha chega perto da área e com uma curva linda marca um golaço. Eu mesmo admito que quebrei uma mesa da sala de nossa casa com uma das inúmeras cambalhotas que eu dei... parecia tudo resolvido ( pela terceira vez na partida ), mas... o Fluminense no minuto seguinte chega ao segundo gol e mais servia para eles conseguirem a classificação. Mas...

Era dia do Santos. O dia em que eu vi Pelé em campo. Sim amigos, Giovanni naquele atuou como Pelé. O Rei mesmo diria isso depois. Claro que nos roubaram aquele título na sequencia, na pior e mais mal intencionada arbitragem que eu vi na vida. Mas isso é outra história.

20 anos e eu ainda me arrepio de ver os lances. 20 anos e eu ainda sinto a mesma alegria daquele dia. Ir trabalhar na segunda foi uma alegria como nunca em vivenciara antes. Meu time estava na final e era o assunto do Brasil. 

20 anos e eu ainda digo: Giovanni é o meu Messias. 20 anos e nada superou este dia, nem o Brasileirão de 2002 ( e olha que aquele foi foi insano também ) ou a Libertadores de 2011. 20 anos e eu ainda vejo aquele jogo na minha frente. 

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