O trabalho na Salgueiro FM permitiu-me alguns ótimos momentos. Conversar com figuras ilustres do futebol, jogadores que foram importantes para o meu time do coração ( Santos ) e poder conversar, até com um chileno que sempre considerei um injustiçado: Roberto Rojas. Isso foi em 2008, ano da conquista da Copa do Brasil, pelo Sport.
Ele era o treinador do Goleiros do Sport ( outra grande paixão minha, pouca coisa inferior ao Santos ) e o titular da época é o mesmo de agora, Magrão. Que crava o chileno como o maior responsável pela melhor fase do mito leonino. E numa tarde sol no Salgueirão, eu bati um papo pra lá de agradável com aquele senhor que nem de longe aparentava ser amargurado. Mas motivos para isso, ele tinha...
Antes de dizer ao amigo leitor o teor da conversa, vamos aos fatos: 03 de Setembro de 1989. Maracanã. Brasil x Chile pelas eliminatórias da Copa. O Brasil jogando pelo empate queria vencer o rival sulamericano, entalado na gargante desde um 4x0 sofrido em Córdoba, dois anos antes. E, claro, pelo clima de guerra imposto pelos vizinhos na partida de Santiago, terminada em 1x1, com direito a erro crasso da arbitragem.
O Brasil ( com Careca, Bebeto, Dunga e cia ) vencia por 1x0. Corria o segundo tempo e sem perspectivas de uma virada chilena. Eis que, num momento de ataque de "la roja", as câmeras cortam para a meta defendida por Rojas. O que se vê é uma nuvem de fumaça e mal se avista o, excelente, goleiro. Pronto. A história do simpático Rojas iria mudar. Poucos sabiam o que estava acontecendo, mas logo percebe-se que Rojas está com o rosto ensanguentado. Mas porque? Quase todos sabem que queimaduras - que seriam as consequências naturais da explosão de um rojão - não sangram... mas Rojas se esvaia em sangue.
O time do Chile decide sair de campo, armando assim um grande problema para a FIFA. O problema é que logo as imagens mostrariam que o rojão - na verdade um sinalizador da marinha - nem encostou em Rojas. E mostrariam o pior: ele tinha algo na luva e o passou na testa, motivo do corte. Desarmada a farsa, 87 dias depois, o time do Chile foi punido por 5 anos sem participar de competições organizadas pela FIFA, o que a tirou não apenas do Mundial da Itália em 1990 e também da dos EUA, que aconteceria em 1994. Técnico e Presidente da Confederação também foram punidos, mas coube a Rojas a pior de todas: ele foi banido do futebol.
Isso para um jogador, reitero que excelente, ser banido aos 32 anos é um baque e tanto. Se for um goleiro, que tem longevidade grande, nem se fala. Amigos se afastaram e Rojas caiu no ostracismo. Até que o São Paulo, time que defendia a época, lhe oferece um emprego de auxiliar de outro mito: Valdir Joaquim de Moraes, o melhor preparador de goleiros de nossa história. E no São Paulo ele recomeça, o que ninguém lhe ofereceu no seu amado Chile. Ele ficou marcado, sozinho, por aquela cena lamentável. Da qual, é claro, ele se arrepende...
Naquela tarde de sol no Salgueirão, me aproximei e puxei papo, perguntando quanto ele não ia ao Chile. Ele responde que fazia muito tempo e que vivia mais no Brasil. O papo se estendeu e ele percebeu que eu não condenava por aquilo que fizera em 1989. Perguntei sobre a então geração chilena e se ele acreditava ser possível ir a Copa. A resposta? Sim, tem talento. E de fato "la roja" foi a Copa da África do Sul. Perguntei sobre Magrão, e ele disse: um dos melhores com quem trabalhei. Ele teve que sair, despediu-se com muita educação e foi pro vestiário. Ao fim da partida, ao me ver, ele me disse um até logo... naquele ano Salgueiro e Sport se enfrentaram várias vezes. E mesmo sem conversarmos como na primeira vez, ele - digamos - ficou lembrando de mim...
Rojas foi perdoado pela FIFA em 2000. Em 2003 foi convidado por Ivan Zamorano - maior ídolo da seleção chilena - para atuar em sua partida de despedida. E o mesmo foi ovacionado. Rojas, podem ter certeza, se arrepende todos os dias do que fez. Mas, ao contrário de outros, ele não é uma pessoa amargurada. Isso, com certeza, ele não é...
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