Estes dois representam o que de pior existe no Futebol Brasileiro... |
Tenho 40 anos, como muitos de vocês sabem. Começo este texto com minha idade para reforçar o pensamento que irei tratar neste texto. Quando eu tinha 10 anos, o Campeonato Brasileiro era - acreditem - o segundo torneio importante para os clubes. Sim, isso mesmo. Ai você vai pensar: lógico, a Libertadores sempre é o primeiro. Ledo engano. Em 1984 ganhar o campeonato estadual é que era importante. Pode acreditar nisso...
Naquela época, o campeonato paulista ( por ser santista, era o que eu acompanhava na medida do possível ) tinha 2 turnos e normalmente 20 times, seriam 38 rodadas só para definir um campeão estadual. Parece surreal e quase mentira dizer isso, mas o campeonato brasileiro tinha em média 40 times por edição, divididos em grupos e era disputado em, no máximo, 3 meses. Pois os estaduais dominavam o calendário. Sei que é duro de acreditar nisso se você leitor tiver menos de 30 anos. Mas já fora pior: em 78 foram nada menos do que 96 times!!! Existia até um lema naqueles temas: "onde a ARENA vai mal, um time no Nacional". A ARENA era o partido da Ditadura ( Aliança Renovadora Nacional ).
Vieram os anos 90 e o calendário foi, ao menos, melhorando. Os estaduais foram gradativamente perdendo espaço e o campeonato brasileiro ( com algumas exceções ) foi limitado a 20 times, o que é usual em quase todo o mundo ( das grandes ligas só Portugal e Alemanha tem menos times, com 16 e 18 respectivamente ). O Brasileirão ficou com mais tempo no calendário. Mas os cruéis mata-mata seguiam sendo a tônica. Em 2002 o São Paulo foi o primeiro da fase de classificação, 15 pontos a frente do meu Santos. E isso em apenas 19 rodadas!!! Nas duas partidas, eis que deu Santos de Diego, Robinho e cia: 3x1 na Vila Belmiro e 2x1 no Morumbi, de virada. A CBF então decidiu, que no seguinte, finalmente o Brasileiro seria disputado no sistema de pontos corridos. Uma revolução.
Mas o calendário não evoluiu, seguiu sendo contrário ao europeu. E até hoje isso gera distorções terríveis. Quer um exemplo? Os times europeus voltam as atividade em Julho, período que o Campeonato Brasileiro está apenas começando. Eles vão se reforçar para o começo da temporada e enfraquecem os times aqui. Ou seja, quando o campeonato está pegando no breu, perdemos nossos melhores jogadores. Se o calendário fosse igual ao da Europa a perda seria a mesma, pode argumentar alguém. Ok, mas o time estaria no começo da temporada, não no meio. Repor a saída de um jogador no começo da temporada, ainda durante os treinos é muito mais fácil do que no meio.
Outro exemplo são os jogos da Seleção. Apenas e tão somente aqui existe rodada enquanto a Seleção joga. E o novo calendário da CBF esconde uma pegadinha, ao afirmar que não será mais assim, pois as rodadas serão antes ou depois do jogo. Na Europa o campeonato para quando as seleções atuam. Podem nada menos do que 9 partidas em que os times percam jogadores ( durante a Copa América e Datas FIFA ). Imagine seu time perder 3 jogadores para a Seleção de Dunga ( a principal ) e mais 3 para a de Gallo ( a olímpica ) às vésperas de uma partida contra o Cruzeiro fora de casa, sendo seu time o líder 2 pontos a frente? 9 partidas são 27 pontos e isso é mais do que a diferença ao fim do Brasileirão de 2013 entre Cruzeiro e Corinthians ( 76 contra 50 ).
Os Estaduais deveriam virar torneios de pré-temporada entre os times das Séries A, B e C contra outros times que tivessem jogada um outro torneio. Em Pernambuco seriam Sport, Náutico, Santa Cruz e Salgueiro contra outros 4. Os estaduais deveriam durar, no máximo um mês, liberando precioso tempo para que o campeonato brasileiro pudesse ser mais longo. Isso garantiria melhores jogos. E melhores jogos geram mais dinheiro da TV, dos patrocinadores e vendem mais ingressos, camisas e produtos licenciados.
Mas isso é pedir demais. E diante de tudo o que eu disse, alguém poderá arguir que diante do quadro que eu pintei do passado, que hoje é super evoluído. Não, não é. No máximo bem melhor do que era, mas antes de 0%. Agora é 20% do ideal. Falta muito, mas é muito mesmo. Só que as pessoas envolvidas, isso é irrelevante...
Caso queira ler mais detalhes sobre o calendário de 2015 e suas deficiências, leia a matéria do UOL.
Nenhum comentário:
Postar um comentário