sábado, abril 26

20 anos da morte de um mito

a mais espetacular exibição de um piloto que eu presenciei...
Tive duas grandes perdas em 94. Perdi meu avô paterno em Fevereiro, um baque e tanto. Mas era esperado, previsível que ele iria morrer logo. É da vida, pessoas velhas morrem... mas no primeiro de maio, ai foi algo totalmente sem preparação. Ao vivo pela TV uma nação inteira via seu ídolo maior morrer. Foi terrível. As lembranças vão passando, ma eu até hoje lembro com qual roupa eu estava, onde estava sentado e o que comia... o dia 1º de maio de 1994 é uma data que, pra ser bem sincero, não acabou...

Ayrton Senna da Silva era um esportista acima da média. Mas também era, como dizem muitos que com ele trabalharam/viveram um porre de pessoa. Daquele capaz de vetar companheiro de equipe ou dividir a equipe ao meio. Mas era, inequivocamente um ás do volante. Quando finalmente pegou um carro confiável vencer 3 campeonatos em 4 anos ( 88, 90 e 91 ) e ainda foi vice em 89, quando forças estranhas entraram na pista.

Mas curiosamente sua temporada mais impressionante, aquela em que teve suas mais memoráveis vitórias, foi a de 93. A sua última temporada completa. Em 1992 a McLaren tinha motor ( Honda ) e não tinha carro. Ao fim de 92 a Honda se retirou da F1 e a equipe de Senna ficou sem ter motores. A Williams, rival que teria Alain Prost ( também este o maior rival de Senna ), usou seu poder de veto e impediu que a Renault cedesse carros para a equipe de Ron Dennis. Sem outra opção teve aceitar receber a segunda versão dos motores Ford ( que nem de longe eram os mesmos dos tempos gloriosos do fim dos anos 60 até o início dos 80 ). Isso mesmo, a equipe receberia os motores uma versão defasada da Benneton.

Senna percebeu, logo no começo da temporada, que o carro era melhor do que em 92, mas faltava motor. E fez uma preparação especial, usando o que de mais moderno existia em termos de condicionamento físico. Neste aspecto ninguém foi melhor que ele. Ele estava na ponta dos cascos.

Na primeira corrida da temporada, a volta do circo da F1 voltava a correr na África do Sul, que agora não mais tinha a política de segregação, o apartheid. Senna fez uma excelente corrida, chegando em segundo, no braço. Era o máximo, pois Prost e sua Williams de outro mundo simplesmente detonou a todos. Mas era um sinal. Ai veio o a corrida no Brasil. Senna já conseguira quebrar o tabu em 91, mas a corrida de 93 foi melhor em termos de atuação.

No sábado fez o que era possível, ou seja, ficar em terceiro. Quase 2 segundo atrás de Prost. Em condições normais, seria outro passeio do francês. Seria... Largada e tudo dentro do previsto. Prost dispara na frente, mas eis que veio a chuva que o baixinho "professor" tanto odiava e Senna amava. Prost bate em Christian Fittipaldi no fim da reta e ai tudo muda. Hill, companheiro de Prost, herda a liderança, mas só para tomar um drible humilhante antes do laranjinha. Senna segue sem problemas e enlouquece o povão!!! Senna, inacreditável, era o líder da temporada.

Mais ainda não chegamos ao ponto máximo. O Grande Prêmio da Europa voltava ao calendário e seria disputado na pista de Donnington Park, que Senna conhecia muito bem. Diversos pilotos não. E isso faria a diferença. No treino Senna fica atrás de Schumacher, perdendo a pole dos pilotos com carros normais, pois as Williams ficaram com 1º e 2º. Obviamente, a pole foi de Prost. Só que no domingo, caiu o céu em Donnington. Prost deve ter pensado que era castigo!!!

A melhor primeira volta de um piloto na história foi o que se viu. Senna passou a todos e na penúltima curva passou por um atônito Alain Prost e disparou na liderança. Chegou mais de 1 min na frente de Damon Hill e fez a volta mais rápida ao passar por dentro dos boxes para fazer uma parada e a equipe não estar preparada!!! Senna lidera bem a temporada ao fim 3 corridas: 26 pontos frente 14 de Prost.

Poderia terminar ali a temporada. Só que ainda faltavam 13 corridas. Nas seis etapas seguintes Prost venceria 5 delas. Senna somaria apenas mais 24 pontos. Mas venceria em Mônaco, a sexta e última dele no principado. Recorde ainda sem ser quebrado. Nem mesmo Schumacher conseguiu derrubar esta. Prost foi campeão bem cedo. Mas Senna ainda tinha o que mostrar: venceu as duas últimas e passou Damon Hill na classificação, ficando em segundo lugar, um feito impressionante!!!

Senna morreria em Ímola, na curva Tamburello. Deixou saudades e uma dor inexplicável neste blogueiro. Meus domingos nunca mais foram os mesmos e o feriado do dia do trabalho perdeu sentido. Ficou a lembrança dos feitos, daquela temporada mítica correndo contra tudo e contra todos, com o pior equipamento e dando shows. 

Ficou o mito. Que superou a morte. Pois, Senna era genial demais para perder para ela...

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