sexta-feira, abril 25

Charge do Dia: pintar a cara?

Esse é o país da piada pronta...
Eu tinha 18 anos quando veio o movimento cara-pintada. Foi algo que eu vivi - embora não tenha pintado o rosto - e cobrei também a saída do então presidente Collor, a quem apoiei no segundo turno de 89 ( tinha 15 a época, e no primeiro turno teria votado em Mário Covas caso pudesse ). Portanto, era um presidente que eu defendera. Contudo, a minha visão aos 40 anos sobre aqueles dias hoje é bem diferente...

O próprio Collor hoje é visto de outra forma. Seu Governo, na média de regular para ruim, teve alguns pontos acertados, que deixo para comentar depois. Mas um ação foi extremamente certa para os dias de hoje: a quebra da reserva de mercado. Parece piada dizer isso nos dias atuais, mas se você quisesse comprar um CARRO, teria que mudar para outro país. Sim, isso mesmo que você leu. A indústria brasileira, desde os Governos Militares, era protegida da concorrência estrangeira e basicamente tudo era produzido aqui. Parece bom, não é mesmo? Pois não era. Tínhamos tudo, mas tudo atrasado e - sobretudo - mais caro. Porque cobrar barato se não tem concorrência?

Claro que isso foi feito sem critérios e diversos setores quebraram ( o têxtil principalmente, mas o de calçados ). Sem a abertura do mercado, o Plano Real talvez não tivesse sido feito. Foi algo que hoje produz efeitos benéficos, muitos aliás. Mas a época não repercutiu tanto assim.

Collor caiu por diversos motivos, mas um deles passa desapercebido por muitos: a votação pelo seu impeachment foi às vésperas das eleições municipais de 92. O clima ficou bem ruim e quem era aliado largou o osso com medo do que viria pela frente, afinal se ele escapasse naquela votação, os deputados ficariam marcados negativamente. Os candidatos a prefeito que eram de partidos de esquerda cresceram bem naqueles dias, feito a ex-Prefeita Cleuza Pereira frente ao ex-prefeito Paulo Afonso. O clima era de que era preciso mudar. E de fato mudou. E Color caiu...

Olhando hoje em dia, ele praticamente nada fez que merecesse cassação de mandato. Tanto é verdade que o STF o inocentou de todas as acusações. Muitas das quais, verdade seja dita, eram realmente bem superficiais. Ele, por anos a fio, sustentou que foi vítima de um julgamento político. Agora pode bater no peito e dizer que é Inocente. Eu mesmo não faria mais o que fiz 22 anos atrás, naquela época forças se movimentaram pensando apenas nos seus próprios interesses: 
  • O PMDB de Ulisses acreditava que o vice ( Itamar Franco ) renunciaria junto com Collor, e que o Sr. Diretas ficaria como Presidente, pois era o Presidente da Câmara dos Deputados;
  • O PT pois entendia que Lula nasceria como virtual presidente nas eleições de 94 e porque sem Collor, o então partido da moral e da ética "perfeitas" viraria o esteio da democracia;
  • O PSDB por se entender como a âncora política pela qualidade dos seus quadros. Neste época ninguém sequer cogitava FHC como candidato, falava-se muito era do ex-Governador Franco Montouro;
  • O PDT de Brizola entendia que por ter sido duro e enfático contra Collor, faria do seu líder o favorito em 94 nas eleições presidenciais.

O fato é que todos se movimentaram contra Collor olhando pro próprio umbigo. Viram a oportunidade e fizeram uma união que nunca fora vista desde as Diretas e que nunca mais seria vista. E por falta de apoio, Collor acabou caindo. É altamente irônico ver que Collor hoje é aliado de Lula, de grande parte do PMDB, do PDT e do PC do B. É de gargalhar...

E para finalizar, soam proféticas as palavras de Fernando Collor durante a crise do Mensalão: " por um terço disso ai eu fui cassado"

2 comentários:

  1. Mais uma do "mito" poeta para a coleção:

    https://www.youtube.com/watch?v=uj2JIFMqAks

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  2. O gordinho é o trabalhador brasileiro. O restante é o consórcio petralha.

    https://www.facebook.com/photo.php?v=539278302867677&set=vb.323394941122682&type=2&theater

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