quarta-feira, outubro 15

Uma, singela, homenagem aos professores da minha vida no Carlos Pena


Dia 15 de Outubro. Uma data como qualquer outra para este Blogueiro, pois não sou nem um pouco afeito aos dias às mercadológicas, criadas apenas para impulsionarem as vendas do Comércio, tal como Dia das Mães, dos Pais... um profissional como um professor não deveria ser reverenciado apenas neste dia de Outubro. Mas enfim, assim o é e minha opinião é uma gota no meio do oceano capitalista. Aliás, eu sou capitalista, todos são... até mesmo quem se diz socialista. Porque se fosse mesmo, morava em Cuba. Adiante...

Minhas lembranças escolares remetem ao Carlos Pena Filho, que hoje nem é mais sombra do que era 1982, quando nele fui cursar a 2ª Série, com a Professora Socorro Landim ( mãe do Urologista Eduardo Landim ). Naqueles início da década de 80, a Escola boa era a pública, não a particular. De um modo geral, apenas os mais elitistas estudavam na também saudosa Monteiro Lobato ( de épicos confrontos do futsal, onde eu sai vitorioso na maioria deles, diga-se ) ou aqueles que era rejeitados pelo "Colégio Normal". Não é errado dizer que o tive o privilégio de fazer pate de uma elite: a pensadora. Claro que era um sistema excludente, que deixa a margem tantos e tantos jovens que não podiam ali ingressar. Restava o Colégio Industrial ( atual Urbano Gomes ) ou o recém construído Aura Sampaio Parente Muniz ( este nomeado em homenagem a mãe do então prefeito Cornelito, cujo esposa também foi minha professora, D. Cleri ). Existiam grupos como o "saudoso" Manoel Leite  - me desculpem mas o atual nada tem a ver com aquela histórica escola - ou ainda o Osmundo Bezerra ( este ainda no mesmo local ).

Quando meus pais decidiram sair da vida agitada da maior metrópole da América Latina e criarem seus filhos ( tenho apenas uma irmã ) em Salgueiro, quase não fui aceito no Carlos Pena. Motivo? O Boletim vindo de São Paulo continha conceitos ( A, B, C, D e E ) e por aqui era usados notas. Um adendo: por mais que tente não consigo lembrar-me da minha escola em Santo André, onde morávamos.É uma lembrança perdida, haja vista, que a escola foi demolida por ficar próxima a um barranco, segundo parentes me informaram. Foi preciso a atuação de minhas tias ( que estudavam na Escola ), para que eu fosse aceito. Outros tempos, é claro...

E que bons tempos. Até hoje chamo por "minha Diretora" a ocupante do cargo de então: Eremita Cruz. Tenho o orgulho de dizer que sou merecedor do seu respeito. E isso é algo muito caro a mim. A figura de Dona Eremita ( e equipe ) foram determinantes para a formação do meu caráter. Muitas das mulheres que compunham a equipe da Secretaria já nos deixaram, mas moram para sempre em meu coração. Para não cometer injustiças, evitarei citar nomes...

Depois de dois anos como aluno de Dona Socorro Landim ( e de ser duas vezes o segundo melhor aluno, atrás de uma notável aluna Diene ) fui cursar a 4ª Serie com Dona Maristela. Guardo ótimas recordações daquele ano, embora tenha sido em 84 que fraturei o braço direito. Ainda bem que sou canhoto, praticamente não perdi nada, prova disso é que fui o melhor aluno da turma. Fim de uma era.

Veio a quinta série, nova métodos, novas descobertas... e eu só consigo - eu juro - me lembrar de Dona Marlene - com quem cruzo quase todos os dias - além da já citada Dona Clery. Talvez seja porque o pouco que eu sei de português tenha aprendido com ela. Sobre a esposa de Cornelito, gostaria de destacar uma aula que eu jamais esqueci: foi no dia 15 de Março de 1985, quando Tancredo Neves deveria assumir o Governo Federal. Ela falou sobre Democracia - juro que não lembro que matéria ela lecionava, mas desta aula eu nunca esqueci. 

O Colégio já começava a demonstrar os sintomas que o levariam ao desastre nos anos 90, mas ainda era a melhor Escola da cidade e da região, não por muito tempo. Em 1986 fui estudar no horário da tarde, um choque é claro. Mas só no começo. Novos professores, novas experiências. Como esquecer da aula em que Jonas ( irmão do prefeito Marcones ) cita que "não se pode somar mangas com bananas" para explicar equação do primeiro grau ou ainda ele responder ao colega que insistia em usar lápis para fazer a prova: "poder pode, mas não deve-se usar lápis". Impagável. Até hoje damos boas risadas destas histórias. De sua esposa, Dona Socorro, soube de uma bem recente: de que ela parou de fumar por minha causa. Eu explico: em 1987 aconteceu a primeira greve de professores, com a entrada de Arraes no Governo ( aliás, ele já assumiu com a categoria em greve ) e numa aula ela explicou que o Salário era pequeno e coisa e tal. Ai e minha boca soltaram essa pérola: "se parasse de fumar, sobraria mais dinheiro". Passei de ir parar na Secretaria!!! Mas fico feliz de saber que posso ter salvado o pulmão dela rs rs...

Eu tenho que citar dois nomes, que infelizmente não constam da minha lista de professores, mas de quem eu sempre tive admiração e, sobretudo, o respeito: Mozart e Carneiro. O primeiro saiu da Carlos Pena antes que eu chegasse na Sétima Série, mas vivemos conversando e ele sempre propondo desafios, dos mais mirabolantes possíveis. Adora Sodoku por causa dele. Já o segundo... bom, digamos que minha fama de bom aluno - que a maioria dos citados podem comprovar - me precedia. E nas vezes em que busquei ajudar com Antônio Carneiro, ele sempre me ajudou. Chegou até a interromper uma aula para responder uma questão de Arribamar ( outro bom amigo até os dias atuais ). Senti a sua morte como a quem perde um ídolo. Um dos muitos que já se foram, infelizmente.

Chegando ao fim do 1º Grau - odeio de coração estes novos termos que apenas estragam com o passado - teve a oitava série, com o fim do que eu chamo de anos de ouro. A escola pública já estava totalmente desmantelada ( não por outro motivo Progressiva e Paulo Freire foram criadas neste período ), faltavam cadeiras e as que tinham eram mais cheias remendo do que qualquer outra coisa... Na parte das citações, como não se lembrar das provas "surpresa" de Irlânio, que nada tinham de surpresa? Ou da lição que Dona Enelzinda deu numa aluna que escrevera Brasil com "Z"... outros tempos, com certeza. Mas o fim estava próximo.

Com a Constituição de 1988 o que já estava ruim, ficou mil vezes pior. A CF universalizou a Educação, o que na teoria era uma boa coisa, mas na prática... resultado: salas de aulas cheias e Escolas sem qualquer estrutura para receber tais alunos. Além disso, uma safra de professores foram se aposentando e outra, imberbe, chegando. Não tinha como dar certo... Em 1991 toma posse a irmã de Dr. Romão, uma tragédia. Me desculpem os parentes dela, mas a Ivanize irmã foi o prego que faltava no caixão... De boa citação neste período, as professoras de Biologia Janicleide e a de Química Ainoam. De triste lembrança: a ausência de professor de Matemática. Sim, meu segundo grau foi do começo ao fim sem professor de Matemática!!! 

Ao fim de 1991 terminei meu tempo no Carlos Pena Filho e não mais reconhecia a excelente escola que conhecera 9 anos antes. Parecia, sério, outra escola. O prédio ainda era o mesmo, mas parecia uma casca de ovo rachada. Mas isso ainda não seria o pior: em 1994 um incêndio destruiu arquivos da Escola e o teto desabou, levando ao fechamento da mesma. E isso ainda não foi pior: antes de reabrir a escola, as cabeças pensantes(??) da Educação no Estado decidiram por bem dividir a Escola em duas. Sabem porque? Para conseguir apoio político e dar a Ivo Júnior uma Direção de Escola. Sei bem do que falo... Dividiram o Carlos Pena, que como conheci nunca mais existirá, fisicamente...



Pois nas minhas memórias, ele e os grandes mestres de minha infância e começo da juventude, serão eternos...

Um comentário:

  1. Franqueza acima de tudo. Não estudei no Carlos Pena mas tive grandes amigos de rua e de bola que estudaram lá e no Industrial. Era uma época que só quem não jogava bola era doente. Até as gatinhas jogavam. Por isso éramos tão sociáveis.

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