domingo, junho 8

Japão e Coreia do Sul 2002: Ronaldo, Marcos e Rivaldo comandam a conquista do Penta

Ronaldo abre o placar na final, após falha de Oliver Kahn...
Mais uma novidade na história das Copas: pela primeira vez - e única até aqui - a organização do mundial foi compartilhado entre duas nações. Outra novidade era o continente delas: a Ásia. Assim Japão e Coreia do Sul, após dura batalha, sediariam ambos a primeira Copa do Século XXI. 10 estádios em cada nação, todos moderníssimos e com custo baixo de construção, comparados com um certo país que mais venceu Copas na história. Um show dentro e fora dos gramados, sem dúvida alguma.

O Brasil vivia uma crise de identidade após o fiasco de 4 anos antes. E nada ajudou ter tido 3 técnicos. Além disso Ronaldo praticamente nem jogou no período entre as duas copas e sofrera uma terrível contusão um ano antes do mundial e chegaria em situação indefinida para a Copa. Na qual o Brasil correu riscos reais de ficar de fora pela primeira vez. Luiz Felipe Scolari fez convocações esquisitas ( Polga, Luizão, Edilson ) e deixou de fora o melhor jogador do Brasil a época: Romário. A zaga da seleção tinha Roque Júnior (?? ) de titular. 2 dias antes da estreia, o capitão Emerson foi cortado com uma luxação no ombro, após cair de mau jeito em um rachão onde estava atuando no banco. Tudo previsto para um desastre...

As seleções participantes estavam assim distribuídas por continentes:
  • América do Sul: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Equador;
  • América do Norte e Central: México, EUA e Costa Rica;
  • Ásia: Japão, Coreia do Sul, Arábia Saudita e China;
  • África: Camarões, Senegal, África do Sul, Tunísia e Nigéria;
  • Europa: França, Alemanha, Itália, Turquia, Bélgica, Espanha, Croácia, Dinamarca, Irlanda, Polônia, Portugal, Rússia, Eslovênia, Inglaterra e Suécia.

Com tantos estádios e em duas nações, os organizadores optaram por dividir a Copa em duas. Sim, isso mesmo. De um lado 16 seleções jogariam no Japão a primeira fase e do outro 16 na Coreia. Os primeiros classificados que tinham jogado no lado nipônico iriam decidir uma vaga na final em solo coreano e vice-versa com os outros 8 classificados. Assim os dois países teriam chance de ver seleções favoritas. A menos que elas não se classificassem. E o que teve de favorita ficando na primeira fase... Outro detalhe: a abertura ficou com a Coreia do Sul e a final com o Japão. Ao fim de tudo isso, os grupos ficaram assim divididos e decididos:

  • Grupo A: Senegal, Dinamarca, Uruguai e França. E a campeã... ficou na lanterna e sem sequer conseguir marcar um gol. Senegal manteve a história dos africanos em jogos de abertura de Copas ( 2 jogos, 2 vitórias ) e ficou em primeiro. Dinamarca ficou em segundo, superando um valente Uruguai.
mesmo caído, Bouba Diop choca o mundo ao marcar o gol da derrota francesa...

  • Grupo B: Espanha, Paraguai, África do Sul e Eslovênia. A fúria se recuperou do fiasco da Copa passada, vencendo seus 3 jogos em 2002. O Paraguai, que não era mais o mesmo de quatro anos atrás, só conseguiu se classificar por ter marcado 1 gol a mais que os sulafricanos. A Eslovênia, uma das estreantes da Copa, apenas assistiu de dentro do campo;
  • Grupo C: Brasil, Turquia, Costa Rica e China. O Brasil venceu os 3 jogos, mas... na estreia a arbitragem de um sulcoreano foi decisiva para derrotar a Turquia. Os turcos superaram no saldo os "ticos" - que voltavam a Copa desde 1990. A China, outra estreante, só viu os jogos;
  • Grupo D: Coreia do Sul, EUA, Portugal e Polônia. Antes da Copa, todos apontavam que Portugal e Polônia eram os favoritos, só que... ser favorito nesta Copa não era uma boa coisa. A Coreia venceu Portugal na rodada final, classificando-se e também aos EUA;
  • Grupo E: Alemanha, Irlanda, Camarões e Arábia Saudita. Se o Brasil era desacreditado antes da copa, talvez nem os próprios jogadores alemães esperassem algo do nationelf naquela copa. Mas um grupo bem acessível permitiu aos germânicos passarem em primeiro sem sustos. E com direito a goleada da Copa ( 8x0 na Arábia Saudita ). A Irlanda contou com dois empates ( que surpresa!!! ) contra os mais fortes e passou em segundo. Camarões - mais uma vez, decepcionou;
  • Grupo F: Suécia, Inglaterra, Argentina e Nigéria. Comecemos pelo óbvio: a Nigéria pela primeira vez não passou de fase. E sigamos pelo mais impressionante: os argentinos ficaram de fora. Uma derrota para os ingleses e um empate para a Suécia foi o suficiente para tirar "los hermanos" da Copa, para a qual eram um dos 3 favoritos. E sim, os suecos ficaram em primeiro, caso alguém queira saber...;
Batistuta lamenta eliminação da Argentina. Ele também se aposentou da seleção nesta partida
  • Grupo G: México, Itália, Croácia e Equador. Se você duvidar quando falo de que a Itália prefere sofrimento em fase de grupos de uma Copa, procure ver quantas vezes eles passaram em primeiro lugar num grupo... os italianos venceram os equatorianos, perderam para os croatas e seguraram, a duras penas, o empate salvador contra o México. Que foi o primeiro do grupo;
  • Grupo H: Japão, Bélgica, Rússia e Tunísia. E não foi nesta Copa que um anfitrião ficou na fase de grupos. O Japão superou as expectativas - até as suas mesmo - e ficou em primeiro, sem perder um jogo que fosse. No jogo que decidiu o segundo lugar, na rodada final, os belgas venceram os russos e voltaram a passar de fase. Pena que logo na sequência seria abatidos pelo Brasil e pela arbitragem...;

o penta poderia ter ruído nesta jogada...
O Brasil encarou a Bégica nas oitavas de final, em Kobe no Japão. E o lance acima foi anulado, até hoje não se sabe bem o porque. O Brasil jogava mal e poderia ter saído atrás e pudesse não se recuperar. Mais ai no segundo tempo, Romário saiu-se com essa jogadaça e abriu o caminho para a classificação:


Nas outras partidas das oitavas-de-finais tivemos: Alemanha passando, suado, pelo Paraguai por 1x0, gol de Neuville; Numa batalha em Suwon, a Irlanda quase eliminava a Itália após empatar em 1x1 e só cair nos penaltys por 3x2; Na primeira partida da história das Copas entre duas seleções da América do Norte, os EUA bateram "la tri" por 2x0; Em outra arbitragem super contestada, a Itália caiu perante um dos donos da casa, os coreanos, por 2x1 com gol de ouro na prorrogação; Os ingleses nem tomaram conhecimento da Dinamarca ( 3x0 ); De virada, e na prorrogação, o Senegal passou pela Suécia por 2x1; E o Japão caiu diante da Turquia por 1x0.

Ronaldinho Gaúcho foi do céu, quando fez este golaço...
ao inferno, quando foi bobamente expulso.
Em Shizuoka, uma das melhores e mais emocionantes partidas que eu vi do Brasil. Sensações diferentes demais em 90 minutos de partida. Começou com o erro infantil de Lúcio, que Owen aproveitou para colocar os ingleses na frente. Tudo parecia ficar tenso e dramático com o 1x0 perto do fim do primeiro tempo. Foi ai que Ronaldinho Gaúcho se fez gênio, arrancou e deu de bandeja para Rivaldo empatar. E no segundo tempo, o mesmo R10 decidiria o jogo para o Brasil: numa cobrança de falta, que até hoje rende a dúvida se ele realmente quis fazer aquilo ou não, o Brasil passou a frente por 2x1. Só que depois ele foi burramente expulso. Mas o english team não chegou perto de empatar. E quando ameaçou, Marcos tratou de salvar.

Nas outras partidas, a Turquia passou por Senegal, na prorrogação ( 1x0 ); os alemães superaram, graças ao goleiro paredão Oliver Kahn, o time dos EUA ( 1x0 ); E o Coreia do Sul incendiou toda uma nação, ao eliminar a Fúria nos penaltys ( 5x3 ), após o 0x0 permanecer após 120 minutos de partida, tornando-se a primeira seleção em uma semi-final fora da dualidade Europa/América. Até hoje é a única.

Na semi-final que movimentou uma nação, Ballack fez o gol da partida e Kahn seguiu salvando, e a Coreia parou, enfim, na Copa. Na outra partida Ronaldo Fenômeno, com o penteado mais feio da história das Copas, decidiu contra a Turquia  e fez de bico o gol que colocava o Brasil como a única seleção a ter jogado ( e por duas vezes ) 3 finais em uma sequencia de 4 Copas, repetindo o feito obtido em 58, 62 e 70. 


Na decisão do terceiro lugar, a Coreia já tinha perdido suas forças e perdeu por 3x2 para a Turquia. Nesta partida saiu o gol mais rápido da história das Copas, marcado pelo turco Hakam Sukur. Mas a Coreia fizera uma campanha daquelas de encher de orgulho um país. Lindo de ver, com certeza.

Antes da final, uma informação que faltou na Copa anterior e que faz sentido nesta Copa e na próxima: sabe-se lá porque, mas a Fifa resolveu mudar a forma de escolher o melhor Copa. Antes a escolha se dava ao fim da final e premiava o jogador de destaque do time campeão. Em 98 na França, escolheram Ronaldo no sábado e isso foi anunciado antes da final. Resultado? Dois gols e uma estupenda atuação de Zidane depois isso parecia uma piada... Em 2002 a Fifa escolheu Oliver Kahn no sábado. Ele até era um dos melhores daquela Copa, mas para ser bem sincero Marcos fazia uma Copa, ao menos, no mesmo nível. Mas tinha razão na escolha... teria...

A partida começou tensa, com os times se estudando ao máximo, mas Marcos precisou salvar duas bolas perigosas. A Alemanha sentia pouco a ausência de Ballack, suspenso por um cartão e pressionava o Brasil. Que se achou em campo e obrigou Kahn a fazer duas boas defesas, além de uma bola na trave. Mas o primeiro tempo terminou 0x0. 


No segundo tempo, o Brasil voltou melhor e começou a pressionar o time da Alemanha. Aos 22 minutos, o lance capital da decisão: Rivaldo arma e o lógico era que Kahn fizesse uma defesa até que fácil. Só que o melhor jogador da Copa faz o impensável: larga a bola e como um raio Ronaldo chega e faz 1x0. Mais do que isso, ele vira artilheiro da Copa e quebra a maldição dos 6 gols que vigorava desde o mundial da, que curiosidade, Alemanha. 12 minutos depois Kleberson arranca pela direita e toca para o meio, buscando Rivaldo, o melhor da partida. E ele faz o que só os gênios são capazes: deixa a bola passar por baixo das suas pernas, enganando a marcação e deixando Ronaldo livre para chutar no gol. Desta vez Kahn nem toca na bola: 2x0 e o Brasil é penta. Campeão.

Ronaldo fuzila Kahn: 1x0 e a artilharia da Copa.
Começa a festa do Brasil. A seleção tão desacreditada antes do torneio, se torna a primeira a vencer 7 jogos para ser campeã, igualando o feito do Brasil de 1970 ( só que aquela Copa só previa seis partidas ). E o capitão Cafu - único homem a jogar 3 finais - imortalizou o Jardim Irene.


O Artilheiro

Ronaldo chegara na França como o melhor jogador do mundo e saiu de lá cheio de questionamentos. Durante os 4 anos seguintes ele praticamente nem entrou em campo direito, atormentado por contusões, que pareciam decretar o fim da sua carreira. 

Quando foi confirmado para a Copa, muitos discordaram apontando que era arriscado demais confiar o comando de ataque a alguém que se machucava tanto quanto ele. Apenas 2 meses depois ele mostrou como todos estavam errados. Fez gols de todas as maneiras e foi um dos 3 pilares - no campo - para a conquista do penta, ao lado do goleiro Marcos e do meia Rivaldo. Eu particularmente acho que os outros dois foram até melhores, mas para a história fica a espetacular história de superação de Ronaldo.

Que não apenas quebrara a maldição dos 6 gols como ainda se igualava a Pelé como o maior artilheiro da Seleção em Copas. Este mundial de Ronaldo foi mesmo espetacular.

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