Moacir Barbosa do Nascimento. Um nome que dito assim, muitos não devem conhecer. Mas o nome do meio é ligado, injustamente, ao maior vexame da história do futebol brasileiro. Ou ao menos assim era considerado até ontem.
Barbosa era um goleiro soberbo, respeitado e admirado por argentinos e uruguaios, o que é raríssimo. Barbosa era. A ponto de os rivais sulamericanos terem tentado, por mais de uma vez, contratá-lo para jogar em clubes dos dois países. Mas Barbosa era o goleiro do Expresso da Vitória, como era conhecido o Vasco da Gama dos 40. Venceu 5 campeonatos cariocas naquela década, e em 1948 vencera o embrião da Libertadores ( que só seria criada 10 anos depois do Maracanazo ), disputado no Chile. Encarou de igual para igual "la maquina" do River Plate, e Barbosa teve a sua maior atuação, segurando o 0x0. Foi tão impressionante a sua atuação naquele dia, que os míticos Perdenera, Lusteau e Di Stefano - falecido ontem - pediram ao presidente do River a contratação de Barbosa.
No dia 16 de julho o Brasil decidia a Copa contra o Uruguai. Desde 1947, Peñarol e Nacional tentavam contratá-lo, sempre em vão. Nem o Vasco tinha interesse em vender, mas sobretudo Barbosa jamais cogitou deixar o Gigante da Colina. Naquele fatídico dia de 1950 Barbosa fazia uma partida dentro de sua imensa qualidade. No primeiro tempo fizera uma grande defesa é chute de Schiaffino. Antes do mesmo empatar a partida, ele tirara uma cabeçada perigosa de outro avante charruá. No lance do empate mesmo, ele quase evitava o gol.
Mas veio os 34 minutos do segundo tempo. Veio Alcides Ghiggia, arrancando pela direita para cima de Juvenal e depois Bigode. No lance do empate, 13 minutos antes, o ponta fizeram lance parecido e perto da linha da grande área, cruzara para Schiaffino. Barbosa, inteligente como era, imaginou que seria a mesma coisa, já que naquele momento o atacante já se posicionava para fuzilá-lo outra vez. Barbosa então deu um ou dois passos ( não tem como saber, pois não existe imagem ) para a sua direita, deixando um espaço entre ele e a trave. Era um pequeno espaço, mas sua atitude também foi antevista por Ghiggia, tão inteligente quanto o negro goleiro brasileiro.
Ghiggia deu um chute perfeito, que passou entre Barbosa e a trave. Com seu reflexos quase perfeitos, o nosso goleiro quase evita o gol. Mas este quase, não foi suficiente, como todos sabem. Eram 34 minutos. Faltavam 11 minutos ( num época em que não se davam acréscimos ), mas o jogo já estava decidido. Nada mais existia para ser feito. O máximo que o Brasil conseguiu foi uma cabeçada de Ademir de Menezes, que passou raspando a trave de Roque Máspoli.
Com o desastre, marcado para sempre como Maracanazo, todos esqueceram dos diversos erros cometidos durante a Copa e sobretudo na final:
- O time estava concentrado em uma granja na Floresta da Tijuca. Depois do 6x1 na Espanha, segundo partida, o time desceu para São Januário. Segundo o próprio Barbosa o time saiu do céu para o inferno. Não havia mais tranquilidade, mais sossego. No sábado, véspera da final, a romaria foi insana. No domingo, só faltou plateia para ver os campeões do mundo tomarem café.
- Um dos jornais do Rio de Janeiro levou sua edição de Domingo, que todos sabem saem no sábado a tarde, com a manchete: "Eis os campeões do mundo". Obdúlio Varela, capitão uruguaio, disse isso quando chegou com o jornal na concentração: "o que vocês vão fazer para responder a isso"? Foi o bastante.
- A balbúrdia era tal, que Flávio da Costa - técnico brasileiro - levou o time para o Maracanã às 11:00hs, 3 horas antes do previsto. E fechou o vestiário. O time, portanto, almoçou mal.
- O prefeito do Rio de Janeiro, Mendes de Moraes, fez um discurso antes da partida e disse: "congratulo os campeões mundiais". Mais infeliz que isso é impossível.
- O time do Uruguai, ao contrário que muitos pensam, era bom de bola. O Brasil fizera 3 amistosos com eles antes da Copa: perdeu um em São Paulo por 4x3 e venceu dois realizados no Rio de Janeiro por 3x2 e 1x0 respectivamente. Portanto, nada apontava que poderia ser fácil vencer. Além disso, o goleiro Máspoli disse que esses amistosos foram determinantes para a vitória no dia 16 de julho, uma que vez que o time uruguaio usou praticamente o mesmo time da final nestas 3 partidas. Todos sabiam das qualidades e, sobretudo, das deficiências. Schiaffino confirma a tese: "eu sabia que Alfredo abria mais para esquerda, e Juvenal saía mais para direita. Foi por esse espaço que empatei a partida".
- Flávio da Costa, técnico do Brasil, não se preocupou em melhorar o time para a partida decisiva. Foi um erro fatal, que o mesmo reconheceu anos depois.
- A torcida calou-se após o empate. E deu motivação para os uruguaios. Ghiggia até mesmo cunhou uma frase célebre: "apenas 3 pessoas calaram o Maracanã com 200 mil pessoas: Sinatra, João Paulo II e eu".
Hoje Barbosa está, finalmente livre. Não será mais o responsável pelo maior fracasso do Brasil em uma Copa no Brasil. Aliás agora existe um fiasco maior em TODAS AS COPAS. Ele está libertado. Pena que não tenha vivido para presenciar isso. Morreu em 2000, aos 79 anos, pobre e esquecido. Mas não perdoado. De onde estiver, ele está rindo. E sentindo-se vingado.
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