Uma leitura bem pessoal do pronunciamento da Presidente Dilma...

Dilma usou pronunciamento oficial com peça de campanha eleitoral...

A Presidente Dilma Rousseff vive dias conturbados, como falei em post anterior ( Dilma tem muito com o que se preocupar ), no qual apontei outros problemas além da queda nas pesquisas. Pois bem, ao que parece o comando petista fez a mesma leitura e usou o pronunciamento de quarta a noite ( antecipado pois seria visto por bem menos pessoas na quinta, o dia correto para ir ao ar ), com duas medidas governamentais: aumentar o valor do Bolsa Família ( quem me conhece mais a fundo sabe que uso outro termo ) e a correção, mais uma vez abaixo da inflação, da Tabela do Imposto de Renda.

Antes de ir mais a fundo, um pouco de história: desde que o Real foi implantando por FHC ( era o Ministro da Fazenda ) que a Tabela do IR vem sendo corrigida abaixo do índice de Inflação. Isso gera mais caixa pro Governo pois a cada ano mais pessoas deixam de ser isentas de tributação. Por outro lado isso pesa cada vez mais no bolso dos trabalhadores. Reitero que é uma política perversa que perdura desde os tempos de FHC. Mas isso não é desculpa para que se mantenha isso. Como dado adicional, veja isto: entre 1996 e 2013 a Tabela do IR foi reajustada em 90,08%, enquanto que o IPCA subiu mais que o dobro ( 189,54% ) e o IGP-M, usado para cálculo dos alugueis subiu impressionantes 312%. Isso implica dizer que o brasileiro passou a pagar mais imposto e gastar mais com aluguel e compra de alimentos. É algo cruel. Reitero, aqui a culpa não é só do PT. Não só...

Voltemos ao pronunciamento em si. No passado, e isso quer dizer antes do PT chegar ao poder, os Presidentes usavam a Cadeia Nacional de Rádio e Televisão para desejar Feliz Natal, comunicar decisões de Governo, Planos Econômicos e/ou tentar passar confiança em momentos conturbados. O de quarta a noite foi uma peça de campanha, pensada em todos os seus momentos, começando pela antecipação do dia. E prossegue com o anúncio - desconexo - do aumento de 10% do benefício do Bolsa Família. Como ele se destina a quem não trabalha(!!), não poderia ser feito por aquele canal. A Presidente que convocasse uma coletiva e fizesse o anúncio e pronto. O que foi feito, para mim, é uma clara violação das finalidades do pronunciamento. E os partidos de oposição já estão providenciando ação neste sentido. É algo errado, totalmente diga-se de passagem.

Quando anuncia a correção da Tabela do IR em porcentagem inferior ao IPCA, Dilma tenta passar a ideia de que dá uma boa notícia, mas não é. Como eu expliquei acima, uma boa notícia seria corrigir a mesma em 10%. Ai sim ajudaria milhões de pessoas. Mas, é claro, ela deixaria os combalidos cofres públicos ainda mais sem caixa. Coisa ela poderia facilmente resolver emitindo mais títulos públicos e aumentar a dívida interna. Mas isso geraria ainda mais inflação, que já está alta, o que não é nada bom para quem está tentando se re-eleger. O correto então seria fazer isso de forma discreta, como tem sido feito de 1996: com uma protocolar Medida Provisória ou uma Portaria do Ministério da Fazenda. Sem chamar atenção para a injusta e cruel diferença entre inflação e faixa de isenção do IR.

Dilma e o PT tentaram - no que mais parece um ato de desespero - uma jogada para melhorar a imagem de Dilma. O que é um erro porque:

• Quem vota em Dilma e recebe o Bolsa Família, fará isso com ou sem aumento;
• Quem está propenso a não votar em Dilma e recebe o Bolsa Família, muito pouco provavelmente mudará de opinião por causa do aumento;
• Quem não vota em Dilma e recebe o Bolsa Família, fará isso com ou sem aumento;
• E para quem paga IR, o aumento da Tabela do IR não vai alterar o voto, seja ele a favor ou contra;

Mas existe algo pior ainda do que estes dois pontos que, claramente, foram usados para alavancar Dilma nas pesquisas: o ataque a oposição. Chamar de contrários ao Brasil aqueles que criticam seu Governo é algo abominável, asqueroso mesmo. É a tática usada pelas ditaduras, sejam elas de esquerda ou de direita. Além do mais, oposições num mundo democrático é o que validam o sistema e não o Governo. Porque este, é lógico, existe em todo sistema conhecido. Já oposição só existe em Democracias. Por isso, usar um meio democrático ( pronunciamento oficial ) é algo anti-democrático. Sem falar que isso é totalmente fora do contexto do primeiro de maio. Que aliás, foi chutado para o escanteio no pronunciamento.

Pronunciamento com cara de Horário Eleitoral. Só que a Campanha só começa, oficialmente, em Julho. Caberá ao TSE decidir. Só que é preciso citar que o presidente do Tribunal agora é Dias Toffoli, cuja única credencial foi ter sido advogado do PT em duas campanhas eleitorais a presidência...

Aguardemos no que isso vai dar. Mas seria prudente a presidente respeitar, ao menos, a inteligência alheia no seu próximo pronunciamento. Já que neste as leis ela ignorou.